21.7.04

garganta

A garganta sangrando, feito Santa Cecília. O sangue quente borbulhando na frente dos olhos. Tudo muito vermelho, quase bordô. Tontura, a escuridão lateral comendo o campo de visão rapidamente. Os braços se agitando, as mãos crispadas tentando alcançar alguém ou alguma coisa. O desespero, a impossibilidade da fala. O corte. Sangue, muito sangue no chão, escorrendo como lava pela pele do pescoço. Convulsão. Não conseguia falar, não conseguia gritar, não conseguia...

Acordou com as mãos na garganta. Respiração ofegante, suor, o cheiro da camiseta ensopada. Nojo. Tempestades, terremotos, trovões. Mesmo pesadelo pela décima quinta vez... puta que o pariu! Banheiro... banheiro, pelo amor de Deus. Água na cara, água na boca, água no pescoço. O corpo todo. Sentou na privada, olhando para o chão. No piso branco, os fios de cabelo dele, o tapete sujo, o vaso sem massa dos lados. Precisava consertar essa merda, bosta. Respiração se acalmando. Escovar os dentes. O cheiro da incrustação, o fio dental. Tinha que ir ao dentista de novo.