corpo inerte
Mais do que tubos que entram e saem, o aflitivo de ver alguém entubado é assistir ao tranco do pulmão se enchendo de ar. Você sabe que a pessoa está ali, sedada, inconsciente, mas o solavanco é assustador. Parece que tomba, parece que grita, parece que é algo de outra vida. É a inércia do corpo em movimento, o resto daquilo que fica, o fantasma do que já se foi. E o inchaço, as manchas, o saco com a urina, os bipes dos aparelhos, os números da pressão, tudo isso é fichinha perto da máquina de O2, enfiando o ar a contragosto, sustentando o fio, que insiste em se cortar. Eu sei que há os que sobrevivem, eu sei que faz parte das opções, eu sei que é para o bem, para a vida, para dar tempo aos remédios, para esperar pelos efeitos. Mas é também uma agressão, uma invasão, uma quebra de protocolos poéticos. É um acinte, um abuso, um desgosto, um terror.
Há uma tristeza que sobra nessa visão de vulcão. Erupção da morte.
Há uma tristeza que sobra nessa visão de vulcão. Erupção da morte.
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