22.10.04

conto de natal

Era uma família. Uns três filhos, a mãe e o pai. E mais uma amiga dos meninos. Haviam combinado que, para escapar, cometeriam suicídio coletivo. Algum veneno na comida. Uma doença horrorosa os definharia, se a atitude não fosse tomada. A casa aconchegante, sofás largos, vestidos de vermelho e verde, clima natalino de festa no ar. Todos bem vestidos, com roupas de inverno, a lareira acesa, velinhas e luzinhas especiais. Calor humano, calor do fogo, quentura da união. Felizes, vão para a mesa jantar. A visitante então formula uma reflexão: e se a doença não se concretizasse? Enquanto degustavam as iguarias, conversam sobre as chances de sobrevivência. O rapaz certamente não as teria, seu estado enfermo já era adiantado, embora não fosse visível seu declínio físico. E os outros? A mãe comenta, então, que a alface havia sido envenenada na horta e que a morte era questão de minutos. Mas uma esperança ainda existia: alguns poderiam resistir ao veneno. Ajudando o rapaz a se deslocar para a frente da lareira, todos tomam seu vinho e comem doces, sentados ali, esperando a morte chegar. Esperando a morte passar.
E se Walter Benjamin tivesse percebido que o exército que se aproximava era dos aliados e não dos nazistas?