18.7.06

filiação

E ela liga só para dizer que acha melhor cortar relações. Cortar relações? Agora que a merda já está feita, que as escolhas já são reais, que decisões já foram tomadas? É muita falta de cerimônia, não? É muita sobra de cara-de-pau. Cadê o óleo de peroba?

A insegurança é filha da ameaça da ausência. Sempre foi, sempre será. Uma das ausências sempre foi real, concreta, não precisou ser dita. A outra ausência sempre foi virtual, discursiva, poderia vir a acontecer se... E esse se rendeu juros e dividendos. Na verdade, a virtualidade da ausência é uma canalhice maior do que sua realidade. Porque a realidade simplesmente acontece, já é seu próprio custo. A virtual, não. Ela é só ameaça e, em seu nome, os piores horrores são cobrados.

O bem-estar de alguém depende de suas condições de reação às ameaças de ausência. Depende dos outros laços, das outras relações que se estabelecem e que, aos poucos, diminuem o peso e a força das primevas e primárias. E viva a fase adulta, viva os outros discursos possíveis, as outras ordens, a sobrevivência! E viva eu, e viva tu, e viva o rabo do tatu!

Vazio

Agora, eu tenho que ir. Preciso ir porque estou atrasada. Mas quando não há atraso, quando não há a necessidade de cumprir uma tarefa, vem o vazio, a angústia do caos, a desorganização. Melhor seria ter a sensação de que, mesmo no vazio, o caos não me acometeria. Melhor seria ser zen, imbatível, impávida, imóvel, quieta. O antes da criação sempre me deixa flutuando. Tenho medo do nada.