E ela ficou lá, sozinha. Olhou para os lados, respirou bem devagar, tentou ficar quieta. O estômago comendo por dentro. Ela queria mesmo ficar sozinha. Queria ver como é ficar no vazio, sentir o vácuo dentro da casa, a leveza do nada, queria ver o que sobraria.
Medo? Nem tanto. Talvez um pouco de angústia, mas bem pouco. Sensações novas, suspensão no espaço.
Para se ficar só é preciso ver a cara no espelho, não ter a quem prestar contas, não ter com quem discutir, não ter quem beijar. Ficar só significa se sustentar, descobrir, ver o que se faz por si mesmo, sem os outros. Relações viciadas…
Para se ficar só é preciso ficar só no mesmo. No diferente, não vale. Muitas coisas novas às quais se ajustar: dispersão. O mesmo é o mesmo, é o conhecido e você lá, no conhecido, desconhecido.
Para se ficar só é preciso ter coragem. Para se ficar só é preciso querer ficar junto, nem que seja só um pouco, abrir mão.
Ficar só é uma perda, um ganho.
E ela ficou lá, sozinha. Sabendo que poderia ter sido de outro jeito, sabendo que poderia ter ido junto, sabendo que a escolha havia sido sua. Sentiu-se estranha. À medida que o tempo correu, sentiu-se correta. A escolha havia sido acertada.
Ela sobrou e continuou. Ela existe. Sozinha.