31.8.04

the house

He was right in the middle of a big investigation when he got another phone call. His family again... What to do? Snoopy had desapeared one more time, Pamela just couldn’t stop crying, John was screaming that it was not his fault and Mary was going to defend her PHD in the next two weeks... His home was falling down. He remembered the day he got married, the party, how Mary looked like a princess in that beautiful dress, the dreams they had together, his home. How could everything had passed so fast? Smoking in his office, with the phone hanging from his hand, all he wanted was a moment to work without anything else to worry about. But that seamed to be an impossible mission. OK, he had to go home. After all, it was already half past six. He stood up slowly, closed the files, turned the computer off and moved in a blue way through the corridors. Most of his peers had already gone. He said good night to the doorman and took his car. Driving home, he couldn’t stop thinking about his life. It was as if he had been outside himself for a long long time, as if he couldn’t recognize what he was anymore. With another cigar, a little bit of smoke and some music, he almost cried like Pamela. And that made him think about her, the day she was born and how happy they all were... And after two years came John, and he got happier because then the family was complete, and he started remembering lots of situations, happy things and sad things too, and he thought that Pamela could want to marry some day and he wondered if his reaction would be something like the one Steve Martin had had in that shit movie... He was almost getting home and he thought about Mary. He really had been in love with her for so many years...
And then, when he turned the right, he saw his house. There was something strange, it was completely in the dark. What could have happened? He parked the car, jumped out and run to open the door, but someone from the inside opened it first: “Sorry, I think you’ve come to the wrong house.” For a second he was lost, confused and astonished, but the lights were turned on and his family and his friends were all there screaming: “Happy Birthday!!!” How could he forget his birthday? How could he forget his life?

25.8.04

Clariciana

Tinha o cérebro oco. Parecia que sua cabeça estava em jejum.

Só Vovô e a Morte

Fundos falsos no xadrez
Confiar em si como se a realidade pudesse ser posta em dúvida.
O fazer não importar,
deliciosamene sutil e solitário.
Nostalgia nevando em minha cabeça
delicados cristais musicais.
O cheiro de acqua fresca
(carícias-toques) de florzinhas de carbono.

A sensação máxima que não foi permitida
mas sentida, procurada ou talvez somente esperada.
Prelúdio tranquilo do Nada.
Coisas de criança grande...

Gabi 23/10/88
Flávio 30/11/88

ponte

O gosto rançoso da língua escondida
Os olhos cheios e embaçados
Cabelos embaralhados
Noite maldormida

Acorda no escuro e corre para a sala
Afagos de companhia em vigília
Se deita confusa, sofá e almofadas
E cai novamente, fantasia esquecida

E vaga, assim, de um lado pro outro

24.8.04

Cansaço

Cansaço. Depois de um sonho em que bolas de intenções eram atiradas como coquetéis molotov acordou, exausta. Começo de dor de garganta, com pus na amídala – seria o motivo das bolas guerreiras? Vontade de se defender, de revidar, de dizer não. Cansada de ouvir o mesmo discurso. Cansada da mãe. Cansada como a mãe. Cansada é a mãe!!!

23.8.04

queria ser

Sempre quis ser uma baleia no fundo do mar, grande, gigantesca, silenciosa e cantora, movimentando toneladas de água, tendo filhotes, dançando. Movimentos lentos, poderosos, grandes como um mundo inteiro, abarcadores. Sons profundos, exatos, econômicos, essenciais.

20.8.04

pé chato

Falaram que ele tem pé chato também... Será que é verdade? Meu pai tem pé chato e foi por isso que ele não foi parar no exército... Escapou... Mas em compensação acabou sendo preso por fazer parte daquelas organizações estudantis e católicas que pululavam nos idos fins de 60. Vai saber o que teria acontecido se ele não tivesse pé chato... Às vezes me dá uma aflição de poder encostar a planta toda do pé no chão! É esquisito, parece que não deveria acontecer assim. Meio ilícito. Como se uma parte do corpo fosse deformada, sei lá. Só que ninguém vê a tal da deformação. Lógico, porque nem é uma deformação verdadeira e, além do mais, pode deixar os homens para fora do exército e, portanto, ser até uma coisa boa. Mas, sei lá... Quando eu dançava balé tinha umas professoras que diziam que não daria certo, meu pé chato. Outras, no entanto, gostavam do meu pezão porque, além de chato, ele era bem grande. Minhas extremidades sempre foram finas, longas e grandes. Ainda bem que eu sou mulher...

17.8.04

sonho do rio

Uma expedição em dia de nuvens carregadas. Um vale com suas montanhas gigantescas e, de repente, estávamos caminhando pelas águas. A maré subia. Eu, o tio Chico, a tia Ana, talvez a Carolina pequena e mais umas pessoas. Me perguntava que rio era aquele e via no chão, coberta pelas águas, uma placa esculpida em pedra que tinha o mapa das Américas com o do Brasil, tudo meio misturado mas nítido ao mesmo tempo, com destaque para o Rio Grande do Sul. Eureka! Era o Rio Grande! De volta ao ponto de partida da expedição, numa casinha de madeira e barro, conversava com um velho escuro, parecido com meu bisavô materno. Ele explicava coisas dos rios ou dos tempos e eu pensava que era para isso que os velhos serviam, para contar as histórias e explicá-las aos outros, afinal, eles tinham tempo. Em um determinado momento, sentia a casa balançar por causa das águas e perguntava ao velho se não havia perigo. Ele dizia que os fundamentos das casas daquela região eram profundos e que, portanto, não havia problema. Acordei divertida.

12.8.04

você

Eu só quero se for de verdade.
Só quero se for espontâneo.
Só quero se for libertário.

Eu só quero se for sem rancor.
Só quero se não tiver desprezo.
Só quero se não criar distâncias.

Porque o perto às vezes é difícil,
Mas é melhor do que qualquer falseamento.
E a verdade às vezes machuca,
Mas é melhor do que o engodo, o engano.

E a minha raiva vai saindo pelas bordas da boca.
Vai se transformando em tesão, em vontade, em chão.
E a minha solidão vai diminuindo aos poucos,
E eu te recebo em mim, devagar.

E é por isso que preciso de você,
Inteiro, verdadeiro, de corpo e alma.
E é por isso que não quero me abrir
para calhas e abismos entre nós.

Porque estou indo sem rede,
Estou no fio, sem segurança.
Eu sei, a entrega é assim mesmo.
Mas se posso contar com alguém,
Quero que esse alguém seja você.

10.8.04

gavetas

Minhas gavetas não são do interior. São urbanas, limpas e organizadas. Tentam desesperadamente não ter nada a mais, tentam ser ascépticas. Minhas gavetas não têm arruda seca nem pó de terra nem espaços sobrando... Não têm bagunça nem lugar para cantigas românticas do norte. Não têm vãos para sonoridades nem para fantasias. Tentam ficar calmas, longe das origens, longe de barulhos e de exposições. De vez em quando, sinto uma nessecidade absurda de pô-las em ordem. Tiro tudo para fora, jogo o velho, arrumo o novo. Mas a deterioração vence sempre (ainda bem!) e transforma a ordem em caos poucos dias depois. E vou vivendo assim, limpando meu mundo sem lidar com os escondidos, perseguindo um desejo obscuro, repetindo estruturas, vagando por um não saber, lugar enfiado no cerne da minha coluna. Talvez, se eu deixar o mofo nascer e crescer, eu possa saber de mim, das ervas perdidas e da terra que é o pó que eu vou ser um dia.